terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

O tempo de Vieira



O BARROCO

A palavra é, muito provavelmente, de origem portuguesa, designando uma pérola de feitio irregular.
O Barroco caracteriza-se por uma grande complexidade estilística, por vezes com aspectos contraditórios, sendo difícil estabelecer entre certas obras classificadas como tal afinidades estilísticas. Além disso assumiu muitas variantes regionais.
De uma forma geral, procura exprimir estados emocionais, utilizando efeitos mais ou menos dramáticos e estímulos que visam provocar uma excitação nos sentidos do espectador. Utiliza recursos estilísticos como o movimento, a tensão, a multiplicidade de estímulos, a exuberância, o drama, o dinamismo das formas irregulares, duplos e triplos sentidos, jogos de interpretação. Também se notou neste período uma tendência para esbater as distinções entre as diversas expressões artísticas, procurando integrá-las numa só obra (a “obra total”): uma ópera, por exemplo, passa a ser, ao mesmo tempo, canto, música, teatro, pintura (cenários), arquitectura (cenografia), etc.
Como período, engloba uma multiplicidade de manifestações artísticas, com as primeiras obras a surgirem na Itália, no século XVI, estendendo-se, por todo o século XVII, pelo resto da Europa e pelas colónias americanas de Portugal e Espanha, tendo sido progressivamente substituído em meados do século XVIII pelo Rococó e pelo Neoclassicismo.
A expressão “barroco” pode ser usada como adjectivo ou como substantivo.
Como substantivo, Barroco designa uma época artística. A verdade é que nem um só artista desse tempo atribuiu à sua obra tal designação, porque, durante esse período, o termo não era aplicado à arte. Foram autores alemães que o fizeram no século XIX, de forma a designarem todas as obras de arte executadas após o Renascimento. Nesta altura, o sentido da palavra era negativo (extravagante, irregular, exagerado, estapafúrdio), mesmo pejorativo, uma vez que se considerava o período do Renascimento como o ponto mais elevado da arte ocidental e as obras posteriores como uma decadência ou degenerescência.
Entretanto, surgiu o termo Maneirismo, para englobar um conjunto de obras e de autores que, seguindo aparentemente as regras classicistas, muito subtilmente as subvertiam. Era uma arte intelectualizada, elitista, fria, só para iniciados.
O termo Barroco surge, então, a designar mais precisamente as obras que, embora subvertendo igualmente as regras do Renascimento, faziam-no exuberantemente, através do movimento e da agitação dos sentidos. Era de compreensão mais intuitiva e imediata porque apelava aos sentidos e às sensações.
Entre historiadores e críticos passou a ser usado de forma mais neutra: designa, pura e simplesmente, um determinado período da arte ocidental, entre o Maneirismo e o Rococó. Perdeu, portanto, a carga pejorativa a que se sujeitou tanto tempo entre os historiadores, os críticos e os amadores de arte. Passaram a aplicá-lo para além da arte: também a sociedade dessa época, no seu modo de estar, seria Barroca.
Como adjectivo, o termo perde a maiúscula no B e aplica-se a todas as situações, sejam artísticas ou não, em que se evidenciam as características acima enumeradas. Neste sentido, aplica-se muitas vezes a certas manifestações artísticas em determinados períodos em que as obras se tornam mais dramáticas: por exemplo, certas obras do Período Helenístico da escultura grega são descritas através do adjectivo barroco, dada a tendência dos artistas desta época em retratar cenas de forte carga emocional (por exemplo, "O Gaulês Moribundo"), ao contrário dos autores do Período Clássico, que retratavam a impassibilidade de heróis imperturbáveis. Da mesma forma se aplica ao Gótico Final (Flamejante) ou a certas tendências contemporâneas, não só na arte, mas também em diversas outras situações sociais (“A Sociedade do Espectáculo”).
Certos autores, como Henri Focillon, defendem uma visão “vitalista” da Arte. Os seres vivos nascem e crescem, atingem a plenitude na fase de amadurecimento e acabam por declinar e morrer. As formas artísticas conhecem movimentos similares: conhecem um período arcaico, uma fase inicial, em que as formas nascem e em que se assiste a um período de experimentação; um período clássico, em que atingem a plenitude e o equilíbrio; e um período barroco, em que as formas conhecem uma degenerescência através de uma decoração excessiva.
Esta visão, ainda hoje muito lida aqui e acolá, parece não reconhecer no Estilo Barroco um período de produção intensa de autênticas obras-primas que, libertando-se do impasse a que as regras classicistas haviam conduzido a arte europeia, concebeu uma forma de expressão original e com múltiplas linhas de desenvolvimento.
O Barroco, como período, tem sido muito estudado nas suas manifestações meramente artísticas e, mais alargadamente, relativamente a um toda uma cultura que invadiu a esfera do exercício do poder, as relações entre grupos sociais (aspectos de sociabilidade e outros fenómenos análogos), formas de religiosidade, entre outras.
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Pedro semedo
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sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

As licenças



Antes da imprensa, a difusão do livro era escassa, uma vez que a cópia era feita à mão, numa tarefa em que um livro demorava meses ou anos a ser replicado. A questão dos direitos ou do controlo do autor ou do copista não se punha, num mundo que se regia por tempos, princípios e constrangimentos materiais muito diferentes daquilo que faz o nosso quotidiano.
Com o surgimento da imprensa (1455), deu-se um grande impulso à difusão do livro, com o surgimento crescente do número de impressores que, numa pequena fracção de tempo levado pelos esforçados copistas, compunham e editavam livros a um ritmo cada vez maior.
No século XVI, dificuldades de sobrevivência das oficinas, preocupadas face a situações de fraudes e de outras situações de natureza corporativa, surgiu o chamado Privilégio Real, isto é, o Rei fazia uma concessão particular a determinados impressores, excluindo os restantes do direito de imprimir.
Porém, essas concessões também tomaram um cariz censório sobre os autores, quer controlando a impressão preventivamente, quer assumindo mesmo um carácter repressivo.
Cada livro requeria pelo menos três licenças de impressão: a da Inquisição, a do Ordinário (ou seja, do Bispo) e a do Paço (ou seja, do Rei ou dos seus funcionários); no caso do autor pertencer a uma ordem religiosa (como era o caso de Vieira), juntava-se a licença da Ordem (da “religião”).
Uma vez concedida a Licença o livro podia ser impresso e, depois de concluída esta parte, voltava à Mesa para ver se estava “conforme o original”. Nessa altura vinha a aprovação final, dada pelos 3 (ou 4) poderes, com os termos: “pode correr”. No fim ainda poderia ser sujeito a uma taxa (imposto).
Tudo isto levava muito tempo e era preciso, se a obra contivesse aspectos mais controversos, argumentar com cada um destes poderes.
Havia, portanto, duas censuras: a religiosa (com listagens de livros expressamente proibidos por heresia) e política. Esta última não era menos rígida do que a primeira, dependendo da tolerância do monarca. Nos casos em que havia maior severidade, aumentava também a impressão clandestina e a circulação de livros proibidos por circuitos paralelos.
A obra impressa do Padre António Vieira foi sujeita a todas as licenças e circulou sem restrições aparentes.
Pedro Semedo

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

À maneira de Vieira...

Sermão de um Filho a Seus Pais
Capítulo I

“Tu és a atmosfera de uma estrela”

Pais e filhos, este é um ciclo que se estende desde o início da vida. Considerando que os filhos são como pequenas estrelas, que se vão expandindo no Universo do seu ser e cujo brilho não deve ser ofuscado, os pais são como a atmosfera que mantém o brilho dessas estrelas.
E quando essas estrelas não brilham? Qual será o motivo dessa escuridão? A atmosfera, decerto. Ou é porque esta é ténue e escassa, deixando a estrela desprotegida, fazendo com que esta se vá apagando, ou porque é tão volumosa e intensa que não permite a passagem do brilho para o exterior.
Para evitar esta situação, a atmosfera deve ser controlada, deve existir um equilíbrio que proporcione um ambiente perfeito.

Capítulo II

Enfim, os pais são aqueles seres que todas as pessoas desejariam ter presente ao longo da sua vida. São eles que nos protegem, que nos guiam, que nos fazem sentir bem quando tudo à nossa volta parece perdido.
São eles os primeiros a dar-nos a mão quando caímos, são eles que nos ajudam a construir uma ponte forte e segura para podermos atravessar, passar por cima de todos os nossos medos e inseguranças. São os pilares da nossa vida, são o suporte da nossa existência. São eles que garantem uma sólida construção do nosso futuro. Outra das qualidades dos pais é também visível num animal, tão nosso conhecido, o pinguim; este arrisca a sua vida pelas crias, pela segurança e conforto das mesmas, assegurando assim a perpetuação da vida. Também os pais lutam todos os dias das suas vidas para nos proporcionarem conforto e segurança. Eles são verdadeiros e incansáveis batalhadores. Os pais são também quem nos ensina, quem nos transmite ideias, valores, cultura. E diz Ruth E. Renlcer, “ às vezes o homem mais pobre deixa a herança mais rica”, pois a melhor, a mais rica herança que um pai pode deixar a seus filhos é o conjunto de valores que lhe transmitiu e que são imprescindíveis para a sua vida em sociedade, para o seu futuro como cidadão responsável.
Em suma, os pais são a origem de tudo o que somos e nós somos a seu reflexo mais fiel.



Capítulo III

Explorando agora o particular, podemos exaltar alguns casos de amor, de luta, de apoio infindável. Situações em que os pais não deixaram que o brilho das suas estrelas se apagasse.
Um dos casos que merece destaque é o caso de Lara, uma mãe lutadora que tudo fez para salvar o seu filho de uma vida sombria e repleta de obstáculos, um mundo onde qualquer estrela perderia o seu brilho. Lara, apesar de todo o sofrimento, nunca desistiu e sempre levantou o seu filho quando ele caía nas garras da droga. Ela foi o seu pilar, a sua ponte para a saída daquele abismo sem fim. Com toda esta força e coragem, Lara salvou a sua estrela e repôs o seu brilho.
Entrando num mundo diferente do racional, que é o dos humanos, podemos referir um caso não menos impressionante, o mundo animal. Existe uma aranha que oferece o seu próprio corpo às suas crias, assim que nascem como forma de alimento. Oferece, assim, o seu bem mais precioso, a vida, em prol da sobrevivência da sua descendência. Haverá maior sacrifício que este?
Indubitavelmente os pais arriscam tudo e dão tudo em troca da sobrevivência e felicidade dos seus filhos.


Capítulo IV

Todo o amor, todo o carinho que os pais nos dão, todo o conforto que nos proporcionam é algo que nos é absolutamente indispensável, mas tudo isto tem que ser equilibrado. É neste aspecto que, por vezes, os pais falham. É que nem sempre são capazes de equilibrar os seus sentimentos para com os filhos.
Quando todo este amor é em demasia e há uma protecção excessiva, os filhos acabam por se sentir aprisionados. Sentem-se revoltados. Parece que as suas asas não foram feitas para voar e que o mundo que os rodeia é grande demais para ser explorado. Que consequências podem advir desta situação? Esta protecção em excesso faz com que os filhos não estejam preparados para o mundo que os rodeia, e então surgem os medos e as frustrações.
Como dizia Mahatma Gandhi “ A liberdade não tem qualquer valor se não incluir a liberdade de errar”, ou seja, proteger os filhos não é rodeá-los com uma muralha, mas sim deixá-los errar para que eles aprendam com os próprios erros, tornando se mais fortes e capazes de erguer a cabeça no meio da tempestade.
Também há casos em que se verifica o oposto da situação anteriormente referida. É verdade que há pais que não apoiam, não dão verdadeiro amor, que não protegem os seus filhos. Deste desprezo resultam crianças carentes, revoltadas e que se sentem abandonadas e perdidas no mundo, pois falhou-lhes o núcleo fundamental. O futuro destas crianças fica, deste modo, condicionado, pois estes não tiveram as bases necessárias para a construção do mesmo.
Estes erros são, de facto, condenáveis porque põem em risco todas as coisas que os pais devem garantir aos seus filhos.


Capítulo V

Descendo novamente ao particular, podemos verificar tantos casos, em tantas partes deste nosso mundo, de pais que fazem sofrer os seus filhos, pais que cometem erros que prejudicam o seu bem mais precioso. Todos os dias, na televisão, nos jornais, ouvimos ou lemos relatos de casos em que isto acontece.
Madalena é um desses casos. O seu amor era de tal forma excessivo i incontrolável que sufocava o seu filho. A protecção excessiva de que fazia questão de não abdicar era motivo da tristeza do seu filho, que não podia voar livremente. Madalena não o deixava sair de casa com os amigos pois tinha medo que se magoasse; fazia questão de o acompanhar a todos os eventos realizados na sua escola, e levava-o constantemente a médicos de várias especialidades para se certificar de que este não estava doente. Toda esta situação fez com que o seu filho não se sentisse feliz; as suas asas ficaram atrofiadas; o seu brilho foi ficando baço.
Pelo contrário, Filipe era um pai ausente. Desde a morte da sua esposa vira-se responsável pelo seu filho, mas na verdade quem cuidava dele todos os dias era a empregada que tinha contratado. Filipe nunca passava tempo nenhum com o seu filho, estava constantemente a trabalhar e a viajar. Nunca comparecias nas reuniões da escola e raramente ia passear com o filho. Resultado: uma criança carente e revoltada, pois via todos os seus colegas da escola com os seus pais e sentia-se só, abandonado.
Se todos os pais colocassem os seus sentimentos numa balança, se olhassem para os seus erros, se estivessem atentos, se não… enfim, se, se, se…num mundo perfeito haveria com certeza pais perfeitos.



Capítulo VI

As palavras “pai” e “mãe”, tantas vezes pronunciadas, em todas as línguas, têm um significado especial. Especial, não só porque os pais têm um papel importantíssimo, mas também porque cada pessoa atribui o seu próprio significado a estas palavras. Mãe e pai são aqueles que fazem girar a roda da nossa vida, assim como o vento ajuda a mover o moinho; pai e mãe são aqueles que nos apoiam, assim como o tronco de uma árvore sustenta a sua copa; pai e mãe são aqueles de que necessitamos, assim como o ser vivo necessita do oxigénio; pai e mãe são aqueles que nos guiam, assim como os rios guiam a água até ao mar. Apesar de serem tudo isto, também podem errar…
Como o mundo é formado por pais e filhos, se todos os pais soubessem lidar com os seus filhos e se todos os filhos soubessem lidar com os seus pais, o mundo seria muito melhor, com certeza.
Este sermão é uma reflexão sobre o Homem e o mundo, uma forma de expor factos não menos importantes que outras questões julgam ser consideradas de nível mundial, pois os pais são a génese deste mundo.
Aline Oliveira, nº2,
Ana Rita Santos, nº4,
11ºA