quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

À maneira de Vieira...

Sermão a um Grupo de Amigos


Capítulo I

“Um amigo é um tesouro.”

Os amigos são, tal como a família, as pessoas mais importantes que tenho na vida. Eu e todo o ser humano. Enquanto que a minha família me adora, me ama porque de uma infinidade de combinações genéticas surgi eu, apenas eu, os meus amigos amam-me e apoiam-me por escolha própria, porque através de um labirinto de múltiplas características conhecem o meu verdadeiro Eu, aceitando-me e estando a meu lado tal como sou, na minha mais complexa e secreta identidade que, ao longo do tempo, foram desvendando.
Não há margem para dúvidas que não se compram amigos e também não se vendem … Uma amizade vale mais que todas essas moedas e notas que enchem os bancos, do que todos esses cheques com inúmeros zeros à direita que, diariamente, são depositados nas caixas de Multibanco. Não se consegue arranjar um preço para um amigo; é incalculável, é impossível! Os amigos não têm preço. Na verdade, estão guardados numa parte tão pequena de mim, mas no fundo tão importante, que vale mais que toda a riqueza conquistada na época dos Descobrimentos, que todas as jóias e tesouros que os nossos estimados reis e rainhas possuíram… Estão submetidos ao meu coração! Só e apenas ao meu pequeno órgão vital, mas que lhes dá uma importância inexplicável, que lhes permite fazerem parte do meu gigantesco armário de recordações, que nunca será apagado.
É por isto, amigos, por serdes os meus tesouros, aliás, bem mais valiosos que tesouros, que hoje, aqui, quero não só louvar-vos por tudo o que significais para mim, e para os outros, por toda a vossa importância, por todos os vossos valores.Ah! mas também apontar e repreender alguns aspectos menos correctos da vossa parte.

Capítulo II

Como um amigo é um tesouro e a palavra tesouro sugere-nos coisas valiosas, preciosas, que trazem felicidade a quem as possui, vou começar por louvar as qualidades que, na minha opinião, mais vos caracterizam, meus fiéis amigos.
É essencial louvar uma das vossas características que todos os seres humanos deviam revelar em todas as situações do quotidiano: a verdade. É maravilhosa a vossa capacidade de procurar a verdade, como pequenos filósofos de lupa na mão procurando o valor empírico de qualquer situação, investigando o passado histórico das coisas.
São inúmeras e inexplicáveis as situações conflituosas e banais tão vividas na nossa sociedade, extremamente enfatizadas nas televisões, nas rádios, nos jornais, que fazem grandes escândalos de situações sem pés nem cabeça. Cada vez mais o homem age pelos seus impulsos, não procurando ser válido nos argumentos que usa, querendo sempre ter razão ocultando o verdadeiro lado da sua tese. A verdade é essencial para confiarmos pois, como disse o filósofo Hugo Hofmannsthal, “É preciso no geral, acreditar em alguém, para, no particular, realmente nele depositar confiança”.
Na amizade é fundamental ser verdadeiro pois, meus caros amigos, se não confiamos nos nossos amigos em quem vamos confiar?
Paralelamente a esta virtude, quero louvar o vosso total companheirismo. Numa verdadeira relação de amizade é fundamental nunca abandonar um amigo. Os amigos são sempre amigos, são alguém de que precisamos sempre ao nosso lado para avançarmos na nossa vida. São as pernas que percorrem novos caminhos. São as mãos que conhecem novas texturas. São o paladar que experimenta novos sabores. São o olfacto que sente novos aromas. São os olhos que observam novas belezas. São a mente que se depara com novas decisões.
São poucos e raros os que hoje acompanham os amigos em todas as suas caminhadas, oferecendo-lhes a mão em todas as suas quedas. Vocês põem os amigos na lista das vossas prioridades acompanhando-os sempre em todas as situações pois os verdadeiros amigos estão sempre presentes. Sem pretensões, mas presentes! Nas alegrias e nas conquistas, nas desilusões e nas derrotas.


Capítulo III

Descendo mais para a nossa relação particular de um grupo de inseparáveis amigos, começo por falar na tua capacidade de ouvinte, meu maior confidente.
Não é fácil ouvir alguns desabafos e lamentações, algumas vezes exagerados pois, tal como diz o povo, muitas vezes fazemos tempestades em copos de água. Tu tens uma paciência ilimitada não só de ouvir as confissões que te faço mas também de, no fim, opinares sobre o que te parece ser mais plausível. Sinto-me extremamente confortável quando te confio algum pensamento pois sei que me estás a ouvir e que no fim, como que por magia, vais buscar as palavras certas para falares sobre o meu desabafo, não só aconselhando-me mas lembrando-me que estás sempre ao meu lado, disponível para me ouvir quantas vezes mais forem precisas. Maravilha-me a maneira como jogas com as palavras, como um enorme dicionário ambulante, dirigindo-me as mais cómodas e reconfortantes que, magicamente, me aquecem a alma, pois, como disse Madre Teresa de Calcutá “As palavras de amizade e conforto podem ser curtas e sucintas, mas o seu eco é infindável”.
Louvo sempre os que me ouvem, nomeadamente hoje e aqui, e especialmente a ti, que sempre foste o meu principal conselheiro, pois a magia das tuas palavras, dos teus gestos, dos teus apoios, anestesiam-me o corpo e a alma.
Numa amizade são inesquecíveis todos os momentos que se vivem conjuntamente. Quero louvar em especial todos os momentos que aparentemente seriam “chatos” e monótonos, mas os quais são transformados em pura animação e diversão.
Desta forma, quero louvar, dinâmico e divertido amigo, a tua capacidade de nos divertir quando estamos reunidos, fazendo de pequenas e simples combinações, as maiores e mais divertidas ocasiões. É de louvar a tua agilidade para fazer alegria, contagiando-nos com a tua maneira de ver a vida, Consegues pintar uma barulhenta e animada cidade num deserto silencioso, proporcionando-nos momentos inesquecíveis para guardar no nosso grande armário de recordações.
Recordo uma noite calma e de desânimo por parte de todos, numa sala ainda mais fria e pálida, onde, surpreendentemente, no meio do nada, criaste um enorme festival com todos os pequenos objectos que nos rodeavam e nos quais só tu tinhas reparado. A sala sorria para nós com o som motivante que tocavas. As estrelas pareciam brilhar ainda mais. Pintaste um novo cenário!
Actualmente, o homem vive tão obcecado em fazer bem que vive a sua vida tão monotonamente e nem repara na beleza do que o rodeia, passando grande parte dos seus dias numa desconfortável confusão, mergulhado nas suas preocupações.
Louvo, por isso, toda a felicidade em que vives e a felicidade com que pintas o mundo, contagiando tudo e todos em teu redor com essa tua alegria de viver.


Capítulo IV

Como nada no mundo é perfeito e tudo tem um lado bom e um lado menos bom, passemos agora à repreensão dos defeitos em geral dos amigos.
Vivemos numa sociedade em constante evolução, onde uns lutam para sobreviver e outros procuram onde gastar tanto dinheiro. Infelizmente o homem vive extasiado pelo ter, pelo material, ambicionando sempre mais. Não são poucos aqueles que sobem na vida com a desgraça dos outros e, por isso, vemos, em muitos casos, interesse e falsidade caracterizando uma amizade.
À primeira vista parece-nos impensável, mas todos nós aqui presentes temos a noção de que há casos assim. Há muitas amizades construídas em torno do dinheiro, do poder que um tem a mais que o outro.
É essencial repreender toda esta falsidade e todo este interesse que surge numa relação que deveria reger-se pela confiança, pela lealdade, pela verdade!
Como pode alguém ser feliz com relações à base do interesse? Viver sozinho apenas preocupado com o que o outro tem, e que ele não tem, não lhe trará mais felicidade. Aprendam a dar valor ao que têm! Um amigo é um tesouro. Não se compra. Proporciona mais conforto e felicidade que todo o dinheiro, e mais algum, conseguido numa relação de falsidade e interesse!

Capítulo V

Voltando-me agora para o nosso caso mais particular, é importante referir a pressa que tu, nosso pequeno matulão, tens de crescer.
Na vida há tempo para tudo. Para rir e chorar. Para estudar e descansar. Para comer e dormir. Para namorar e discutir. Estamos na fase da adolescência, uma aprendizagem já mais responsável que a infância. Uma fase de preparação, de descoberta, de luta, de conquista.
Porque desejas tanto ter dezassete anos quando tens apenas dezasseis, ou dezoito quando tens dezassete? Menos um ano de vida? Pode até parecer pouco porque afinal é só menos um ano, mas na verdade são menos trezentos e sessenta e cinco dias, oito mil, setecentos e sessenta horas, quinhentos e vinte e cinco mil e seiscentos minutos, o que, se traduzirmos para segundos, dará um gigantesco número com cerca de oito algarismos. Em cada um destes milhares de minutos perdem-se tantos sorrisos, tantos abraços, tantos carinhos, tantos momentos, tanta vida!
O homem vive numa extrema agitação. São as filas de trânsito que nunca mais acabam. São as correrias para evitar atrasos. São os almoços mal saboreados. O rápido acordar. Os bons – dias que ficam por saudar. Como declamava António Gedeão “O sonho comanda a vida”. O homem desaprendeu! Parece que já não sabe sonhar, já não sabe viver cada dia com prazer, já não sabe saborear a vida, e por isso, corre diariamente evitando cometer falhas. Tudo isto para chegar ao fim do dia com apenas mais um dia de uma longa rotina, sem alegrias para contar, sem surpresas para recordar, sem esperança para o outro dia… sem sonho!
Não tenhas pressa. Aproveita todas as dezenas de horas, as centenas de minutos, os milhares de segundos como se fossem os últimos.
É bom orgulharmo-nos do que fazemos pois todos merecemos um aplauso nas nossas vitórias, mas não é tão bom gabarmo-nos de sermos sempre melhores que os outros.
Numa verdadeira amizade como a nossa, vivemos e aturamo-nos conjuntamente porque de diferentes pontos de vista descobrimos aspectos em comum e, ao longo do tempo, fomos criando esta pura cumplicidade que nos permitiu chegar aqui todos unidos.
Quero repreender a tua pequena insegurança na nossa amizade que leva a que te gabes sempre de todos os teus méritos num exagerado paleio. Adoramos-te e admiramos-te pelo que és e pelo que fazes, não só connosco mas individualmente e com os outros. Aplaudiremos sempre que venças as tuas metas e apoiar-te-emos sempre que falhares e perderes. Sem exibições. Sem exageros. Não precisas de grandes exibições para gostarmos mais de ti e teres a certeza de que nunca te abandonamos, porque não é isso que conta, o que conta é tudo o que temos passado, na nossa honestidade e simplicidade.
A humildade com que Sócrates declamava “Só sei que nada sei” ensina-nos que nunca sabemos demais. Por isso, orgulha-te das tuas conquistas, mas não heroicamente pois são apenas grãos de areia num imenso deserto para descobrir.


Capítulo VI

Depois de ter enumerado todas as boas características e as menos boas que me parecem sobressair na nossa relação de verdadeiros amigos, não posso deixar de agradecer por estarmos hoje, aqui, na nossa segurança e igualdade, aceitando-nos e ouvindo-nos uns aos outros, lutando para melhorarmos sempre mais.
Temos passado e ultrapassado inúmeras situações mais complicadas, outras mais pacatas. Sempre unidos, protegemo-nos uns aos outros com um escudo invisível mas bastante acolhedor: a nossa amizade. Nesta igualdade, nesta simplicidade, nesta alegria, nesta união, neste amor que desfrutamos, criámos uma casa. O nosso segundo lar. Um pequeno refúgio. Uma lareira nas noites frias de Inverno. Uma música no meio do incómodo silêncio. Um oásis no inacabável deserto. Uma fonte de ajuda. Uma fonte de alegria. Uma fonte de amor. Uma fonte de vida!
Agradeço pela nossa amizade, pela nossa verdadeira amizade, por todos os momentos que são guardados no grande armário de recordações de cada um de nós, por todos os sorrisos, por todas as lágrimas, por todos os desabafos, por todos os carinhos, por todos os apoios, por todas as repreensões, por todas as alegrias, por todas as tristezas, por tudo o que vivemos até hoje, por nós!


Trabalho Elaborado por:


Miguel Oliveira 11ºA nº16
Sara Felício 11ºA nº19
Sofia Gordo 11ºA nº20

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